Vivemos a cultura do excesso. Compramos, usamos, descartamos, compramos mais, usamos um pouco, descartamos. Há muito tempo, o simples desejo de consumo tomou ares de necessidade, de dependência ou morte.

Essa história tem início na Revolução Industrial e seu liberalismo. Deslumbrada pelo aumento do seu poder de consumo, em meio a uma oferta de novos e abundantes produtos, uma sociedade do consumo em massa surgia, passando a desejar o fruto do seu próprio trabalho. O advento da propaganda aumentou a competição, e o crédito expandiu a possibilidade de posse – e também o endividamento da população. Fomentados pelo sonho americano, em que importava mais ter do que ser, essa sociedade expandiu fronteiras e ganhou força em todo o mundo. Mais tarde, os mesmos motivos que atraíram adeptos para o consumismo criaria um movimento de oposição: o chamado Low consumerism ou Lowsumerism.

Lowsumerism é um movimento de consumo consciente, idealizado pela empresa de pesquisa em tendências Box1824, que tem como objetivo quebrar o círculo vicioso do consumismo, apoiado em três atitudes principais: sempre pensar antes de comprar, procurar alternativas menos impactantes para o meio ambiente (consertar, compartilhar, fabricar) e viver somente com o necessário.

Economia colaborativa é termo de ordem no Lowsumerism. Vale emprestar, alugar, trocar, reutilizar. O Lowsumerism nasceu, ganhou adeptos e não há dúvidas de que quem ajudou a escancarar as portas desse admirável mundo novo foi a tecnologia, que permitiu aproximar estranhos que não sabiam da existência de outros estranhos procurando as mesmas coisas. Ou oferecendo o que eles procuravam. A lógica é mais ou menos assim: se as redes sociais foram responsáveis por aproximar pessoas que estavam longes umas das outras, as tecnologias colaborativas aproximaram pessoas buscando e oferecendo as mesmas soluções.

A colaboração entre estranhos se transformou em um negócio lucrativo.  O Airbnb, por exemplo, hoje vale 1 bilhão de dólares, valor bem mais alto do que grandes e tradicionais redes hoteleiras, mesmo sem possuir sequer um apartamento próprio. É possível entender o motivo dessa escalabilidade: se você já comprou no Mercado Livre (ou, para os mais modernos, no Enjoei), já usou o Uber, já emprestou de alguém no Tem Açúcar, já se hospedou no Airbnb, ou mesmo se já leu ou colaborou com algum artigo da Wikipedia, então você já fez parte da economia colaborativa, direta ou indiretamente.

Mas isso é só a ponta do iceberg. Hoje mais de 9.500 empresas fazem parte da rede Mesh, um catálogo digital que oferece produtos e serviços de toda e qualquer indústria que possam ser vendidos no modelo de negócios baseado em compartilhamento – The Mesh, de acordo com a terminologia proposta pela idealizadora Lisa Gansky.

Você já pensou em preparar o almoço e convidar qualquer pessoa para dividir um lugar na sua mesa de jantar?  Já pensou em pegar uma carona com um completo desconhecido? Já pensou em dividir baia com um profissional de uma empresa completamente distinta

Plataformas como o EatWith, Zaznu e 2Work tornaram isso possível. A brasileira Baobbá Lab acaba de se lançar no mercado congregando diversas startups no modelo colaborativo, incluindo um conceito de aluguel de canteiro de hortas orgânicas! Modelos como esses tendem a crescer proporcionalmente com o fortalecimento de movimentos, tais quais o Lowsumerism. Essas plataformas otimizam recursos financeiros, ambientais e satisfazem um desejo eminente de uma vida mais simples.

Nessa rede de compartilhamento estão entrelaçadas milhares de pessoas e tudo nasceu a partir da confiança entre elas. Essa é a condição sine qua non para que tudo isso exista. Em Marketing 3.0, Kotler afirma que hoje a confiança existe mais em relacionamentos horizontais do que verticais. Isso significa que os indivíduos acreditam mais uns nos outros do que nas corporações, por assim dizer. Em Tribes, Seth Godin defende que uma empresa só poderá prosperar na economia compartilhada se suportar as comunidades formadas pelos próprios consumidores – ainda que elas existam para servir seus membros; não as corporações.

A grande quebra de paradigma do modelo colaborativo está em, além da vantagem financeira, usar conforme a necessidade. Nesse modelo, a posse deixa de ser protagonista para dar espaço ao acesso, e isso muitas vezes está atrelado à diminuição do desejo de consumo – a semente do Lowsumerism.

Alguma dúvida de que o compartilhamento é o modelo de negócios do futuro?

POR VANESSA PUGLIESE

Link – http://innovationinsider.com.br/economia-colaborativa-na-era-do-lowsumerism/