São Paulo – Pequenas e médias empresas têm deixado de lado ambientes tradicionais de trabalho para aderir ao coworking, uma nova forma de usar o espaço profissional que agrada a um número cada vez maior de startups.

Nesses locais, o espaço de trabalho é compartilhado entre diversos profissionais ou PMEs. Não é raro que a parceria vá além do compartilhamento da infraestrutura e se estenda à realização de projetos em conjunto.

No Brasil, estima-se que o coworking tenha chegado em 2007. Hoje, existem 238 espaços desse tipo, 40% deles no estado de São Paulo, de acordo com estudo do site Ekonomio em parceria com a B4i e a Coworking Brasil.

“O coworking no Brasil começou timidamente, mas nos últimos três anos teve crescimento expressivo, de 200%”, afirma Arnaldo Kochen, sócio-diretor da Place2Work, um espaço para coworking na região da Vila Olímpia, na capital paulista.

A situação do mercado imobiliário ajudou nessa expansão, fazendo desses locais opções em momentos de crise econômica. “É uma solução para não deixar o imóvel vago.”

Optar por um espaço de coworking implica menores burocracia e custos. Na ponta do lápis, uma empresa gasta menos do que se assumir um escritório sozinha, diz Kochen.

Será que o coworking serve para seu negócio? Veja, a seguir, como quatro empreendedores optaram pelos espaços de coworking, quais vantagens viram nesse ambiente de trabalho e para qual tipo de empresa essa escolha é indicada.

Praticidade

Jaime Pereira da Silva, advogado da JP Silva Advogados, que trabalha no local em São Paulo, confirma a vantagem financeira. “Aqui, o custo é distribuído para diversas pessoas, o que torna o espaço muito mais atraente.”

Ele deixou seu emprego anterior depois de dez anos. Silva diz que reconheceu no espaço de coworking uma estrutura que não poderia montar do zero. “Poderia vir trabalhar no dia seguinte à minha saída da empresa se quisesse, não ficaria sem trabalho, pois o espaço estava pronto.” O advogado vai à Place2Work diariamente.

O custo-benefício também fez a Amélia Gastrô, microempresa que atua na área de gastronomia, escolher um espaço colaborativo para trabalhar. Para Flavia Vargas, gerente de projetos da Amélia e uma das três integrantes da equipe, quando se trata de uma empresa que está começando e crescendo, é preciso cuidado com os custos.

“Quando surgiu a necessidade de ocuparmos um espaço maior e mais organizado, para aumentar nossa produção e dar conta da demanda que surgia, vimos no coworking a solução imediata e menos arriscada”, relata. “Vejo o coworking como uma forma de dividir custos, evitar a extinção do negócio e, mais do que isso, permitir o crescimento.” A equipe se divide entre a cozinha do local onde trabalha e o home office.

A parte financeira não é o único atrativo de um espaço colaborativo de trabalho, segundo Júlia Calvão, coordenadora institucional da Casa de Empreendedores Urbanos (CEU), que fica no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, na qual trabalham a Amélia Gastrô e mais 19 empresas. “A definição de espaço para alugar mesa, cadeira, começou a se tornar obsoleta para nós, porque você alugava esse espaço e, de alguma forma, perdia uma grande potencialidade. Você deixar livre o relacionamento das empresas é muito melhor”, afirma.

Coletividade

A colaboração entre empresas é apontada como uma das grandes diferenças entre um local convencional de trabalho, usado por uma única empresa, e um ambiente coletivo.

Para aproveitar a chance de ampliar o networking e alavancar o negócio, Júlia diz que uma empresa tradicional deve mudar sua estrutura se quiser ingressar nesse novo espaço profissional, já que ele não é hierarquizado, e pensar de forma conjunta com os outros usuários. “É importante que todos que trabalham no coworking tenham o espírito de coletividade e respeitem o espaço”, diz.

O ambiente tem que ser colaborativo e é preciso olhar para as outras empresas, diz Flavia, da Amélia Gastrô. “Não adianta ocupar um coworking, chegar todo dia para trabalhar e entrar mudo e sair calado, sem participar. Em um escritório próprio, é inevitável olhar para o próprio umbigo. No coworking, os horizontes se expandem.”

Ricardo Nobre, fundador e diretor-executivo da startup de estatística aplicada ao marketing ANOVA Pesquisa, já esteve alocado em um escritório próprio durante um ano e meio antes de trabalhar no CEU. Ele aponta a troca de informações como uma grande vantagem do coworking. “Essa troca de expertise, que é diária e intensa, eu jamais teria se estivesse em um escritório sozinho”, afirma.

Ele e mais dois sócios trabalham no espaço. Outros profissionais são contratados de acordo com o projeto e, eventualmente, também trabalham no local. “É uma oportunidade excelente de se desenvolver ainda mais, inclusive pessoalmente”, diz Nobre.

O advogado Jaime Pereira também concorda que um escritório tradicional limita possibilidades. “Aqui, abrem-se campos diferentes, pois você conversa com pessoas que trabalham aqui e ainda recebe indicações. Você abre demais o seu horizonte e há uma dimensão maior para captar clientes.”

A coletividade também é estratégica para o orçamento da PME, segundo Luiz Calvão, sócio-diretor criativo da Diálogo Urbano, que atua na área de live marketing. A equipe, formada por cinco pessoas (quatro trabalham no CEU e um consultor trabalha em home office), é complementada com startups do local.

“No coworking, consigo identificar colaboradores que não oneram minha folha de pagamento. São pessoas que trabalham em outras áreas e que ajudam em minhas demandas, mas têm suas próprias empresas”, diz.

A colaboração é a maior vantagem do coworking, de acordo com Erica Jannini, superintendente de gestão de TI do Itaú Unibanco. A instituição, juntamente com a Redpoint e.ventures, é responsável pelo Cubo, localizado na Vila Olímpia, São Paulo. A iniciativa visa fomentar o empreendedorismo tecnológico. “Você estar em um ambiente com empreendedores que passam pelos mesmos problemas que você é ótimo”, afirma.

Para quem é?

Apesar de não haver uma regra para trabalhar em um coworking e das propostas diferentes de cada espaço, Erica diz que PMEs ou mesmo quem trabalhava em home office são os principais indicados ao ambiente colaborativo. Ela também aponta atitudes que são importantes para que se aproveite ao máximo o espaço.

“A empresa precisa estar aberta ao que acontece, frequentar áreas comuns, participar de eventos e colocar suas necessidades para o administrador do coworking, além de aproveitar ao máximo as conexões lá dentro”, opina.

Estar aberto também é uma postura defendida por Luiz Calvão, da Diálogo Urbano. “A principal atitude é ser um canal aberto de comunicação, estar aberto a novos formatos de projeto, a pessoas e opiniões. Muitas vezes você vai ser um pouco fechado no começo, mas é importante se abrir para outras visões”, diz.

Ricardo Nobre, da ANOVA, diz que o empreendedor deve se perguntar sobre como pode agregar mais valor ao seu produto ou serviço com os parceiros do ambiente. Ele também afirma que ser dinâmico e descontraído é essencial, já que muitas vezes esses locais têm clima informal.

Diante da descontração, é necessário também ter foco no próprio trabalho, segundo o advogado Jaime Pereira, mas nem por isso o empreendedor deve ser fechado. “É importante interagir com as pessoas e estar disposto a se apresentar, sempre no dia a dia, no corredor do café, por exemplo.”

Flavia Vargas, da Amélia Gastrô, resume bem como agir em um ambiente colaborativo: “não adianta pensar só no custo mais baixo e não colaborar para o crescimento do todo. É preciso ter uma eterna vontade, e ânimo, de realizar novos projetos. Não ficar parado, propor ideias e soluções, promover o aproveitamento do espaço e ficar atento às outras empresas são atitudes essenciais para aproveitar melhor o coworking”.

Texto – Jonas Carvalho – Exame.com